sábado, 20 de abril de 2013


CHECK-IN

Me peguei contando a intacta dúzia de ovos pela terceira vez- checando  suas 12 unidades ,

Mergulhando em alto  mar, de roupa e tudo , para ter certeza de que as ondas  molhavam ..

Lendo em voz alta o nome escrito em minha certidão de nascimento para ter certeza de que  era  mesmo o meu

Peguei-me olhando fixamente para minha  mãe, e encontrando  em cada traço daquele rosto o reflexo do útero,  e em cada ruga o amor confuso e inquestionável , para ter convicção de onde viera ,

Finquei-me à frente de um  grande espelho ,até que minha presença ante mim mesma,  gerasse  estranheza e medo e  eu retornasse à tona , meio que aflita , dos confins de minha alma  ;

Contei  os sete dias da semana, em todos os calendários que achei , sendo que em todos ,as semanas começam sempre pelos domingos e , para que não pairassem dúvidas  contei ,nos mesmos os calendários  , todos os seus dias ,  e, que em  não sendo bissexto ,   contabilizaram inequívocos 365 dias ;

Coloquei a mão sobre uma chama e percebi que realmente o fogo queimava , enchi   um balde de gelo , coloquei  meus pés e constatei que gelava ,

Em relógios analógicos e digitais , verifiquei as 24 horas de sempre e no céu  além de sol , chuva , nuvens , estrelas , lua , aviões , helicópteros e naves espaciais , tudo ,permanecia celeste ...

Pensei em meu pai e confirmei que a saudade me arde em algum lugar perto do estômago ...

Lembrei-me de alguns fatos de minha infância e senti  misto de raiva , riso , culpa e constrangimento

Visitei  minha adolescência e  ruborizei  a face

Busquei por todas as fotos de minha filha e a senti  em cada uma  como se, ao entrar-lhe no cenário ,  soubesse  de  que  é feito cada grão de pó  na sua estadia  por essa  estrada 

Me peguei  checando tudo o que poderia demonstrar que , de algum jeito , eu me desconectara de mim , de minha história , de minha realidade e nada ....

Realmente a dor que me consumia , que me rasgava  pela tua ausência ,desaparecera ...

Não fazia mais parte de mim , sumira , esvaziara-se , perdera-se em algum lugar ...

E ali estava eu  , parada , sem saber  ainda se rio ou se choro por isso ...

Denise Ferreira Dallal – 25/07/2009 – 11:58

Nenhum comentário:

Postar um comentário